«A noite tinha caído sobre a casa e eles continuavam nos cadeirões, na galeria, com as luzes apagadas, excepto um biombo atrás, na sala, a olharem para o jardim calmo e as luzes do outro lado da casa. Passado um pouco, Sofía levantou-se e pôs um disco dos Moby Grape e começou-se a mover a dançar no seu lugar, enquanto tocava Changes.
- Gosto dos Traffic, gosto dos Cream, gosto dos Love – disse, e voltou-se a sentar. – Gosto dos nomes dessas bandas e gosto da música que fazem.
- Eu gosto de Moby Dick.
- Sim, imagino… Passas-te com os livros e ficas feito numa bola. A minha mãe é a mesma coisa, só está calma se estiver a ler… Quando deixa de ler, fica neurasténica.
- Louca quando não lê e não louca quando lê…
- Estás a vê-la, ali…?, vês a luz acesa…?
Havia um pavilhão do outro lado do jardim, com dois grandes janelões iluminados, onde se via uma mulher com o cabelo branco preso, a ler e a fumar num cadeirão de couro. Parece estar noutro mundo. De repente, tirou os óculos, levantou a mão direita e procurou atrás, às tentas, numa estante da biblioteca que não se conseguia ver, um livro azul, e depois de encostar a página contra a cara, voltou a pôr os óculos redondos, ajeitou-se no grande cadeirão e continuou a ler.
- Lê o tempo todo – disse Renzi.
- Ela é a leitora – disse Sofía.»
[Ricardo Piglia, Alvo Nocturno; em revisão para a Teorema;
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