Há uma semana que o WMP só toca tablas e cítaras, ragas e dhrupads, desde que me sento a trabalhar até me deitar; e dali não sai. A Nico trouxe três CD’s da Índia (Ustad Allah Raka & Ustad Zakir Hussain, Saeed Zafar Khan e Vairagya Raga Gunkali), rapidamente copiados e irreconhecíveis para o computador, enquanto contava que assistiu a um espectáculo, descrito em ambiente familiar – com o pessoal surpreendido por ver portugueses, mulheres portuguesas, e a querer ser fotografado – e eu a imaginar os empalados alternativos e as coristas zen a emoldurarem Anouar Brahem, na Gulbenkian. Olho a foto e sinto nostalgia dos café au kif de Tânger, nas ruelas manhosas do Petit Socco que descem para o porto, onde os músicos residiam num palco à altura das mesas, com o chão e as paredes forradas com esteiras. Num deles, o Najah, na ruela promovida a avenue Mokhtar Ahardan, sem alargar um milímetro, era voz corrente que havia um naco de haxixe que nunca transpunha a soleira da porta. Segundo rezava num dos mil e um charros então ouvidos, o infeliz passaria o tempo num constante vaivém, entre o «mon ami» recém-chegado e o mono de serviço à porta para lhe confiscar o «chocolat»; recheio da casa. É possível, mas não fui desmancha-prazeres e dizer que era treta por não ter visto e garantia de segurança se comprasse ao narrador. Mas vi um freak a aviar tampas de whisky a filas comprometidas de marroquinos, à esquina (Fruta da Época). Como diria o outro: Tudo o que sei, aprendi no Canal Panda. Adiante; a meio de O Passeio e Outras Histórias, por estranho que possa parecer e parece, não me lembro de Os Lusíadas; nem tão-pouco de que são X os Cantos, se não me tivesse informado A Viagem À Índia, pronta a largar ferro. Lembro o começo, na sala de aula de um colégio de província, espantado com as armas e os barões, assim pronunciávamos, barões assinalados, ao longe; mal chegavam à ocidental praia lusitana, estendia a toalha e abalava; não partia. Não se trata de ter alguma coisa contra o vate; se há coisas de que gosto, entre elas, sentar-me na esplanada do Camões, visto de costas, a aviar empadas e a olhar para as varandas da casa da Luiza Neto Jorge. «Talvez nunca nenhum autor tenha, como eu, tão persistentemente pensado no leitor, de maneira tão delicada e gentil.» (Robert Walser)
16 de novembro de 2010
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4 comentários:
Lol :)
Gostei de ler!
O Walser não perdoa :)
E que tem o senhor contra o Anouar Brahem,hein? :-)
A favor do Senhor Brahem, TUDO; os «empalados alternativos e as coristas zen» dão-me vontade de rir
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