«Agora estou aqui e nem de ler sou capaz. Sei que vou morrer e essa certeza basta-me, é como que um calmante. Perante ela tudo desaparece. Mas às vezes também tudo vem, é conforme a cor dos dias. Os cinzentos correm moles, desconsolados, amassados com lágrimas. Os negros, gasto-os a desfilar para mim própria toda a minha existência falhada. Acontece-me pensar se essa existência teria sido diferente, melhor, senão mais longa pelo menos mais bem aproveitada, tendo eu procedido de outro modo, seguido por outros caminhos. E não. Não fui eu que resolvi. Não fui eu a abrir as mãos que, vejo-o, agora, já estavam abertas. Fui forçada a agir e também a ficar quieta. Eu às vezes ia por uma rua larga, a ver o caminho livre e dava de súbito, inesperadamente, com uma parede. Já era tarde para recuar e então tinha de procurar de qualquer modo sair dali ou então desistir e deixar-me ficar. Não era eu quem construía o muro, não era eu também quem adiantava o tempo. Tudo lá estava, preparado para a minha chegada, à minha espera.»
26 de novembro de 2010
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