«Nem sempre a lápis, porquê?», tiveram a indelicadeza – sem má intenção, mas indelicadeza – de perguntar, como parece ter-se tornado um hábito questionar a anilha de prata que uso no dedo mindinho. Dou-me mal com a redundância da evidência e vice-versa, mas não quis ser indelicado e lá fui dizendo que nem sempre escrevo a lápis, como agora. É um facto, tão correcto como o título da rubrica do blogue ter surgido como atitude, de certo modo, antónima de Escrito a lapíz, título que reúne microgramas de Robert Walser. Já vi expressões melindradas por ter puxado de um lápis para autografar um livro. Impressão minha, disfarçaram mal, argumentando que o autógrafo escrito a lápis se desvaneceria com o tempo; ainda não tinham verificado como a minha escrita é incompreensível, indecifrável até para mim. Percebi, então, uma sofreguidão incontrolável, doméstica, de imortalidade; a pretensão de sobreviver ao objecto, a incapacidade de se dissolverem na indiferença.
6 de novembro de 2010
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