«E vou ter agora de voltar a orientar-me. Parto do princípio que conseguirei reagrupar e redistribuir os meus recursos como qualquer general no campo de batalha, que abrange com um olhar todos os dados e integra todos os reveses e contingências na cerrada malha daquilo que poderíamos chamar o seu cálculo genial. Pois são coisas como estas que uma pessoa atenta lê diariamente nos jornais, onde aparecem expressões como: golpe de flanco. Nos últimos tempos cheguei até à conclusão de que a arte de fazer e conduzir a guerra é quase tão difícil e exige tanta paciência como a arte da poesia e vice-versa. Também os escritores, como os generais, procedem a intermináveis preparativos antes de se atreverem a passar ao ataque e iniciar a batalha, ou, por outras palavras, de lançar no mercado um produto do seu labor, ou seja, um livro, o que funciona como uma provocação e despoleta vigorosos e intensos contra ataques. Os livros atraem as discussões e estas evoluem por vezes para tons tão acerbos que o livro acaba por ser liquidado e o autor termina em desespero.»
[Robert Walser, O Passeio e Outras Histórias; trad. Fernanda Gil Costa, Granito – Editores e Livreiros, Porto Janeiro 2001;
Sem comentários:
Enviar um comentário