27 de maio de 2011

Nem sempre a lápis (169)

Falei cedo e não me surpreende ter perdido a noção do tempo. Preparei-me para dar uma volta no carro, mas recusou-se a pegar e não estou com paciência para dialogar com mecânicos e largar dez euros para encostarem uma bateria. Quando e se for preciso, trato disso; foi quase um alívio e dez euros, sempre são uma dezena de páginas. Como o vento limpou o céu até mostrar um quarto de lua em avançado estado de crescimento, pus Lisboa de parte e pensei ir até ao Sargo, na Parede, apanhar Sol. A esplanada que frequento fica na sombra; esparramar-me na da frente, lembra piscina, faz lembrar asilo; O Último Ano em Marienbad, drunfado. Deixemos a solar atitude para o Café no Chiado, A Brasileira, o Camões, o Príncipe Real. Enfiei a lapiseira no bolso e prescindi de um livro e da instamatic; cheirou-me a sol de pouca dura. Na realidade, questiono se preciso mesmo de um carro desde que me estampei há um ano e tal e vivo em Carnaxide, com autocarro à mão. Gosto dele, nunca pensei sentar-me ao volante de um BMW, mesmo com treze anos nem inspirado em Bukowski. Não o escolhi; tornou-se um compromisso e uma segurança tão insegura como os sete mil quilómetros esgalhados em seis meses, para caucionar o argumento de ter um carro para uma necessidade, uma urgência fora de horas. Fora de horas não existe; só relógios parados, a ilusão do tempo especada nas paredes. Ontem, acabei mais uma revisão de até Jajouka, depois de o ter mandado ao Carlos Veiga Ferreira. Agora só precisa de ser, tem de ser revisto pelo Miguel Rodrigues; gostei de trabalhar com ele na Teorema e continuaremos na Teodolito. Se levar nega, não faz mal. Não sei como, mas volto a editar-me (tomei-lhe o gosto); a última leitura confirma ter passado tempo demais para o manter adiado, tenho de me livrar dele. É urgente; passa-se qualquer coisa. Encarei o cartão quando voltei para casa, depois de ter telefonado ao paginador; no fundo, era o que tive sempre na manga para essa e futura eventualidade. Sabendo à partida que é para fazer devagar, é curioso como o tom de voz com que somos reconhecidos e o preço para amigos, pode ser tão estimulante e transmitir tanta segurança. É bom partir; mudar de pele, sem fazer praia.

Sem comentários: