31 de maio de 2011

Nem sempre a lápis (171)

Agradeci e desliguei o telefone. Tenho uns ténis Sanjo pretos à minha espera na Casa Portuguesa; «desde sempre», mas com certeza. Esquecidas as velhas sandálias com a pressa, sempre que perguntava ao portador de uns ténis com mais estrelas que o firmamento, onde os tinha comprado, parecia que pedia a Lua, que aspirava ao estrelato. No eBay, trazidos de fora por um amigo, comprados em segunda utilização por candidatos a pé de atleta. A Net é, pode ser, muito promíscua; sapatos de defunto. Enfim, nada que satisfizesse a simples necessidade de enfiar os pés dentro de um produto nacional de longa data e mais confortável memória; planante. Há tempos, vi uns Sanjo (femininos) num blogue de que sou assíduo, e pensei tratar-se de evocação de produto extinto. Lembrei-me de procurar no Google e fui recebido com um melodioso We’re back!, ora ainda bem, à medida que percorria as colecções e as novidades. Revi o clássico azul navy e o branco colegial da minha juventude; mas seria na K100 – LH que encontraria na referência líder 01, os ténis que procurava pelo preço aceitável de 49,50 € e votos de mais longas e económicas caminhadas. Dei as referências para a lojista fazer a reserva, adiantando que ia apanhar o autocarro ou ficaria para amanhã. Levantei-me com irreconhecível dinamismo da letargia em que me ausento e comecei a arrumar os bolsos. Ao abrir o moleskine para verificar as viagens pré-compradas, só tenho uma ida e todo o prazer da deslocação ficava comprometido. Bem sei que podia comprá-las no terminal do Marquês e apanhar o metro para a Baixa / Chiado, não fosse a proximidade com a Feira do Livro; ir ao quiosque ao fundo do jardim, aqui em frente. Mas não era o mesmo. São quase quatro horas e ainda não fiz uma chávena de café para depois do sumo de laranja e tortilha de brócolos com salmão; marca branca e cor corrente. Passei a mão pelo queixo e preciso de aparar a barba. Ando muito descuidado; ainda não procurei um electricista para pôr o carro a trabalhar, apenas por não saber onde ir. Reservadas as botas pretas Sanjo, preciso de tempo para ir buscá-las, comprar as viagens a seguir ao pequeno-almoço, encaminhar-me para a paragem mais próxima e sair nas Amoreiras. Percorrida a memória até ao Chiado, encaminho-me para a Casa Portuguesa calçado com uns Sebago, à maneira. É minha intenção entregá-los ao espírito, por certo, solidário do estabelecimento, deixá-los à porta para que sejam úteis a alguém; estar em Tânger. Calço os Sanjo para continuar a descalçar-me.

4 comentários:

MCS disse...

Eia, as Sanjo!! Tive várias, sempre pretas (com sola branca). Eram super-confortáveis.

fallorca disse...

They'r back!
Nunca mais as tirei dos chispes.
Parece que ando de Aston-Martin ;)

Maria disse...

As Sanjo!!! Adoro tinha dois pares que duraram até se desfazerem e deixaram muito boas lembranças;-)

fallorca disse...

Agora reparo, uma bloguer em estreia, muito bem