«Oak Park não demoraria, no entanto, a contar com alguns cidadãos de quem o mundo acabaria por ouvir falar. Edgar Rice Burroughs viria a encalhar aqui em 1912, pobre e exausto. Num esforço desesperado para ganhar com que alimentar a família, viria a rabiscar sem grande esperança, nas costas de envelopes usados, a sua primeira história de Tarzan. Entre 1912 e 1919, o período da sua permanência em Oak Park, viria a escrever vinte e duas, criando um dos mitos do século XX. Entretanto, um jovem e genial arquitecto, Frank Lloyd Wright, transformado na coqueluche dos notáveis da cidade, inventava para as suas habitações uma estética revolucionária, puramente americana (embora evoque qualquer coisa de japonês), feita de formas essenciais e depuradas, de ritmos horizontais, de materiais em bruto, a que ficaria ligada a designação “style Pradaria”. E em 1899, no dia 21 de Julho, um recém-nascido, que posteriormente será chamado a honrar com mais assiduidade os saloons do que as igrejas, soltou os seus primeiros vagidos no N.º 339 de North Oak Park Avenue. O Oak Park Times dessa semana, cuja manchete voltava a insistir numa história complicada sobre a normalização dos caixotes de lixo, que já tinha sido cabeçalho da edição anterior (“nem mais de 20 galões e nunca menos de 15»!), inclui ainda um artigo de fundo sobre a maneira como as meninas devem vestir-se no Verão, um outro sobre um faquir hindu que entretém as multidões parisienses ao fazer sair debaixo das suas roupas uma bicicleta pronta a andar. A glória é versátil, ninguém consegue lembrar-se do nome do charlatão indiano; em contrapartida, fixou-se o da criança, pois a rubrica “Personal & Social” anuncia que, nascido na pretérita sexta-feira, “foi, imediatamente, chamado Ernest Miller Hemingway, mais feliz que muitos outros que ficam durante meses, e às vezes anos, à espera de um nome.»
[Olivier Rolin, Paisagens Originais; trad. Jorge Fallorca, colecção Pequenos Prazeres / ASA, Outubro 2000]
2 comentários:
Recomendação certeira e belíssima tradução!
Pena ter passado tão despercebido, mesmo oferecido como encarte do reaparecimento ou mudança de direcção de uma revista, nessa data
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