«Os fotógrafos não entraram, mandaram Tita Recasens para a casa de banho, e o senhor Santiago Vilabrú Cabestany (dos Vilabrú-Comelles e dos Cabestany Roure) assinou tudo em pelota. O primeiro ponto do acordo referia-se à adopção, pelo casal Vilabrú e Vilabrú, de um menino chamado Marcel, de pais desconhecidos.
– Onde o foste desencantar?
– Não é da tua conta.
– Mas que história vem a ser esta?
– Tu assina aqui e cala-te.
Gasull deu-lhe a caneta e Santiago Vilabrú teve de utilizar a cama do amor e do pecado para assinar o papel onde expressava, em pêlo, o seu desejo de adoptar esse bebé.
– O que é que me estás a fazer?
– O que mesmo que me tens andado a fazer desde que voltámos. E ainda antes.
Bom, o segundo documento referia-se à beneficiária testamentária, a senhora Elisenda Vilabrú Ramis (dos Vilabrú de Torena e dos Ramis de Pilar Ramis de Tírvia, meia puta, meia melhor não falarmos nisso por respeito para com o pobre Anselm), da fortuna do senhor Santiago, avaliada em cinco casas de habitação em Barcelona, um considerável punhado de hectares no vale de Ássua e noutros lugares da comarca e um capital de aqui te espero, mas que diminuía, embora não de maneira alarmante, porque o senhor Santiago Vilabrú Cabestany (dos Vilabrú-Comelles e dos Cabestany Roure) tinha decidido que era mais cómodo viver das rendas. Assinado em El Nidito, no dia vinte de Novembro de mil e novecentos e quarenta e quatro.
Gasull pegou na caneta, como se temesse que ele a guardasse num lugar impossível.
– É melhor não voltares a pôr os pés em Torena – disse-lhe ela –. Se tiveres de lá ir, avisa-me.
– Tenho o direito de lá ir sempre que quiser – lembrou-se de repente, como se tivesse piada –. Para ver o meu filho, não?
– Comprei um andar em Barcelona. Tu deixa-te estar no apartamento de Sarrià e tenta nunca mais ires a Torena. Nem ver o meu filho.
– Vai receber uma cópia da acta notarial – informou o notário Carretero sem entusiasmo.
– Atiro-a ao lume.
– Pode fazê-lo à vontade. – Olhou-o nos olhos e, pela primeira vez durante a tarde toda, sorriu e abanou a cabeça –: Vai-o fazer sentir-se melhor. – Para Elisenda –: Por mim, estou pronto, senhora.
– Podem continuar – disse, amavelmente Elisenda –. Queres que te recorde onde é que iam?»