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Coisas cá minhas, por um lado, Áfricas imaginárias, sempre, quer por quem se propõe falar em nome de África ou se assume como a própria voz dela, quer por quem resolve a vida a ocupar-se e a falar dela ou daquilo que na sua imaginação ela passa a ser, ou quer ou lhe convém que seja, e assim já chega e vale muito mais, até, nos mercados e nas arenas a que destina aquilo que produz. Não me sai da cabeça que os primeiros europeus que se expandiram em África, de norte para sul, a partir do rio Congo, admitiram a existência de um misterioso reino de pastores para lá da latitude de Benguela, enquanto os que mais tarde se expandiram de sul para norte, a partir da colónia flamenga do Cabo, conceberam igualmente a existência de um misterioso reino de pastores longilíneos e de cabelos escorridos muito para além dos assentamentos hotentotes que havia a norte do rio Orange. Acabou por ser nesse espaço, comum às duas suposições e onde aliás jamais existiu reino algum de pastores assim, que quase em exclusivo investi o que tenho andado a viver e a procurar saber de há quinze anos a esta parte.»
[Ruy Duarte de Carvalho, Desmedida crónicas do Brasil, BI. 033, Fevereiro 2008;
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