Embora não seja igual, vou continuar a usar a manta de lã enquanto Maio o permitir. A casa demora a aquecer e há um ano, em Asilah também choveu, sem que as mantas do quarto do Pátio de La Luna procuradas no casbah, para não cair na tentação da negociata com os recepcionistas, se assemelhassem a esta de Reguengos de Monsaraz e deve ser peça de museu. Na etiqueta rectangular dourada, lê-se num círculo com o seguinte diâmetro: «Fábrica Alentejana de Lanifícios, Ld.ª Reguengos de Monsaraz Alentejo Portugal»; tipo GPS, duvido é da laboração da fábrica. Por baixo, frisa-se a toda a largura que se trata de Fabrico Manual, legendado em português, inglês e francês, 100% de pura lã virgem; não pica. Não sei se chegou a ser utilizada nem comprada para fazer de carpete garrida com cores de garraiada; permanecia nos curros da memória. Foi um Setembro com duração de década, no castelo ou na arena improvisada com reboques de tractores, no sítio de Telheiro, sopé de Monsaraz, paragem obrigatória e troca de ajuda para a festa, se queria trepar para o reboque. Era a fiesta de Hemingway lida por analfabetos; pontuação viril e primária, aterradora. Vitelos assustados com a algazarra e os candeeiros, o urro de um corno ou clarinete da idade do xisto, a marrarem no ar quando não mandavam um espontâneo efémero para as urgências. À boca calada: «Espalhou-se ca motorizadã...», por exemplo. Até lá chegar – nos veículos mais impensáveis –, permanecem a vinha, as paredes de louça de São Pedro do Corval reflectidas pelos faróis, o montado e a campina a latejar outra presença; às vezes, só um coelho, só uma lebre, a correr à frente do carro, em mínimos.
19 de maio de 2011
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2 comentários:
Estive em Monsaraz em Setembro passado, cheguei durante a manhã. A arena já estava montada. Quando, durante a tarde, fomos para outras paragens e deparei, à entrada da povoação, com os animais apertados nos veículos que chegavam, achei que era uma sorte voltar as costas àquilo. Há tradições que não aprecio.
"a fiesta de Hemingway lida por analfabetos" (resolvi não pôr um sorriso, apesar de a expressão ser muito boa).
Não é a essa «arena» que me refiro, dentro do castelo.
É cá em baixo, no Telheiro; nem sei se continuam a fazer
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