13 de setembro de 2010

Nem sempre a lápis (80)

Três e tal da manhã de um de Setembro; que bem que me sabe escrever esta data e como eu tenho descansado e trabalhado, decepcionando a ansiedade das expectativas para me tomarem de assalto. Calcinado pelo vazio do mês anterior, entreguei-me à dolência de me enquadrar com a casa e de me rever na esplanada, com um lápis atento e implacável, concluído um ano. O tempo mudou, a minha coluna que o diga; extintos os focos de incêndio dos derradeiros dias, até a respirar e a caminhar me sinto diferente e mais indiferente; a ociosidade é um dom natural. Enquanto a «casa de ninguém» aguarda a estocada mortal, a Nico descobriu um apartamento sobranceiro à Fortaleza, no passeio oposto, para passarmos uns dias antes de ir para a Índia, no fim do mês. Decorridos trinta e quatro anos, é curioso que me seja oferecida uma nova possibilidade de ver o quarto de Lua da baía, em toda a sua extensão; desta vez, à varanda de um prédio na esquina fronteiriça com as paredes ocas da antiga estação dos Correios, por onde Armação se começou a desfigurar. Vou ter a oportunidade de ver a Fortaleza e a ermida e as palmeiras e a curva da rua que desce para a praia, na totalidade do olhar; vistas a partir de um plano superior ao apartamento do Serol, acrescentado pelas exigências pedonais; às moscas, às gaivotas, aos cães. Vou andar com as sandálias compradas em Asilah, em vez das caneleiras feitas à medida em Estremoz e os sapatos de corda e de lona azul, escolhidos dentro de uma alcofa à porta de uma casa de utilidades para a praia; ligo o portátil, em vez de abrir um caderno sentado num canto convidativo; disparo a instamatic sem recorrer à loja em baixo, onde revelavam os cartuxos da 110; não olho para o crescimento da tua barriga, porque temos um filho com trinta e três anos.

3 comentários:

CCF disse...

Quase chorei de desgosto quando voltei há um ano a Armação de Pera, é mesmo o exemplo da devastação do Algarve, do que foi o meu país adolescente. Salva-se o mar, a palmeira e a fortaleza.

~CC~

fallorca disse...

E a luz, a luz...

Cristina Gomes da Silva disse...

Bela actualização de memórias, esta. Abraço e até