31 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
«Não compreender o mundo, unicamente porque é incompreensível: diletantismo. Não compreendemos o mundo, porque não é essa a nossa tarefa nesta terra.»
Nem sempre a lápis (171)
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Papiro do dia (78)
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[Imre Kertész, Um Outro – Crónica de uma metamorfose; trad. Ernesto Rodrigues, Editorial Presença, Junho 2009]
29 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
Nem sempre a lápis (170)
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Papiro do dia (77)
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[Imre Kertész, Um Outro – Crónica de uma metamorfose; trad. Ernesto Rodrigues, Editorial Presença, Junho 2009;
28 de maio de 2011
27 de maio de 2011
Porque a Net fornece um novo dia
Às vezes, lá calha...
Nem sempre a lápis (169)
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Papiro do dia (76)
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[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005;
26 de maio de 2011
25 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
«Ninguém pode viver sem uma história, mas geralmente costuma haver uma história que torna completamente impossível continuar a viver.»
Nem sempre a lápis (168)
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Papiro do dia (75)
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[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005
enfim, coisas do arco da velha]
23 de maio de 2011
Porque a Net fornece um novo dia
Às vezes, lá calha
«Roubar alguma coisa de um supermercado e oferecer-lhe. Era o equivalente do que outrora teria sido matar um dragão. No presente iluminista do século, qualquer pessoa diria que os dragões nunca tinham existido. Mas será que para um camponês da Idade Média existiam os supermercados?»
Nem sempre a lápis (167)
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* [«O Google é mentiroso» (Vila-Matas). Como Me Tornei Monja e Aventuras de Um Pintor Viajante; col. Outros Lugares / Assírio & Alvim.]
Papiro do dia (74)
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[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005]
21 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
Nem sempre a lápis (166)
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Papiro do dia (73)
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Não sei se os meus leitores o terão notado, mas é um facto que o tempo transporta sempre outro tempo, como suplemento. O tempo das repetições vivas da rádio trazia consigo outro: o tempo que passava. O palanquim levava o elefante. E transcorria deveras, lento e majestoso. Nele, a catástrofe revelava-se possibilidade de catástrofe, e ficava para trás. Dava-me a impressão de que já não haveria mais catástrofes na minha vida: eu teria vida, tal como toda a gente, e contemplaria as catástrofes da altura da existência do tempo… Os acontecimentos pareciam dar-me razão. Na escola a professora continuava a ignorar-me, e isso era bom. A mamã não voltou a levar-me à prisão. De saúde, bem. A simplicidade da minha vida não me angustiava. Havia uma certa paz em mim. Descobria que o tempo, o tempo extenso feito de dias e semanas e meses, já não de instantes horrendos, agia a meu favor. Que fosse o único que o fazia não me preocupava. Achava-o suficiente. Agarrei-me ao tempo; e por consequência à pedagogia, a única actividade humana que põe o tempo do nosso lado.»
[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005;
[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005;
19 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
Nem sempre a lápis (165)
Papiro do dia (72)
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«Um dia a meio da aula pedi licença à professora para ir à casa de banho. Fazia-o sempre, todos o faziam. Eu, e suponho que com os outros se passava o mesmo, não tinha vontade nem calculava o momento de pedir autorização. Era de repente. Era o único triunfo pleno que posso recordar da minha infância. Para a professora, ver a mãozinha levantada, adivinhar de que se tratava (porque nunca era nada que valesse a pena, por exemplo perguntar-lhe em que casos se usava b e em quais se usava v) e explodir, era apenas um “Vá! Mas é o último! O último!” E o que tinha tido a brilhante inspiração de pedir naquele momento, naquele momento que se revelava como o último, saía a correr louco de felicidade sob os olhares de ódio e amargura de todos os outros, que se sentiam excluídos para sempre, e sentiam perdida a sua oportunidade… Mas a oportunidade repetia-se, idêntica, e era consumada quatro ou cinco vezes em cada hora de aula. Vivíamo-la sempre como um absoluto, e a professora repetia sempre o seu ultimato, embora nunca negasse a autorização, porque as professoras da primeira classe viviam no terror, o seu único terror efectivo, de que algum de nós fizesse ali mesmo as suas necessidades. Mas não o sabíamos. Coisas de miúdos. O que me espanta é que eu tenha entrado tão bem no jogo. Mais próprio de mim, muito mais, teria sido aguentar até a bexiga rebentar. Mas não. Pedia sem vontade, como todos os outros. Nisso estava à altura da minha geração.»
[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005]
[César Aira, Como Me Tornei Monja; trad. José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Novembro 2005]
17 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
Nem sempre a lápis (164)
Devo ter feito uma das minhas, quando aceitei o convite para instalar o Explorer 9, durante uma actualização que me deixou a ver navios. Questão de tempo; rapidamente me afeiçoo a outros hábitos, não necessariamente novos. Mas há dias, em que até a fechadura se recusa a abrir o trinco. Não desespero, meto-me no elevador e volto mais tarde, disposto a confirmar se as portas abrem com cartão e abrem; pelo menos, deu-me essa impressão. Sem compreender porquê, e até encontrar uma alma generosa disposta a vir cá a casa rir-se de mim, só consigo guardar rascunhos do blogue e activá-los no portátil, avesso a actualizações e sugestões desde que passou no Raio X do porto de Tânger. Esqueci-me e a polícia também não deu por nada; bagagem de lei. O caso não seria grave, escrevi na cama grande parte dos últimos três anos, se não me sentisse pouco virado para o campismo electrónico. Basta-me a mania da responsabilidade editorial de activar e corrigir as primeiras provas do blogue, de cinco em cinco minutos, até a tiragem final das 00.15 horas. A partir daí, desligo o PC e caio nos braços da leitura; só escrevo em caso de necessidade.
Papiro do dia (71)
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[Rosa Montero, A Louca da Casa; trad. Helena Pitta, ASA, 3.ª ed. Abril 2008;
15 de maio de 2011
Nem sempre a lápis (163)
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Papiro do dia (70)
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[Rosa Montero, A Louca da Casa; trad. Helena Pitta, ASA, 3.ª ed. Abril 2008]
13 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
«A computação, a teoria da informação e o acesso à mesma, a ubiquidade da Internet e da rede global envolvem muito mais do que uma revolução tecnológica. Implicam transformações de consciência, de hábitos de percepção e de expressão, de sensibilidade recíproca, que mal começámos a avaliar. […] O software tornar-se-á, por assim dizer, interiorizado, e a consciência poderá ter de desenvolver uma segunda pele.»
Nem sempre a lápis (162)
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Papiro do dia (69)
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[Rosa Montero, A Louca da Casa; trad. Helena Pitta, ASA, 3.ª ed. Abril 2008]
11 de maio de 2011
Porque a Net fornece um novo dia
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01: Si quieres, dejamos para tu regreso de vacaciones la página de Historia abreviada, ya que no sé todavía cómo enfocarla.
Às vezes, lá calha...
«Falar com uma certeza aventureira e legítima que nos habita, quando afirmamos o nosso conhecimento da cidade, sem no entanto nos outorgarmos a intimidade de todas as suas ruas ou de todos os seus bairros.»
(Borges citado por Olivier Rolin)
«É bom trabalhar nas Obras» (87)
Arturo mostrou-lhe as notas.
- Deu-te isso tudo? Levam assim tanto por matar uma gata?
- É a tarifa do veterinário.
- Sabes do que me lembrei?: deixá-la no parque e ficarmos com o dinheiro.
- Nunca. Imagina se sobrevive e volta? A minha tia mata-me, assassina-me de verdade. A gata andou perdida muitas vezes e regressou sempre. Se calhar volta a fazê-lo de novo.
- Mas se ela já está a morrer. Não a vês? Fazemos uma obra de caridade em arrumar com ela.
- Tenho medo. Se a minha tia se dá conta…
- Nunca saberá. Imagina o que podemos fazer com esse dinheiro: ir ao cinema, ir remar em Chapultepec, comprar toda a espécie de doces e de refrescos. Enfim…
Arturo apalpou o corpo por baixo do saco de piteira. Estará morta? É má. Florencia gosta mais dela do que de mim.
- Não. Não me atrevo. Juro-te que tenho pena da gata.
- Para todos os efeitos, vai morrer, não? Deixa o saco no meio da rua. Com tantos carros ninguém dá por nada.
- Mas ia sofrer muito. Um dia, calhou-me ver um cão…
- Tens razão. Vamos procurar outra forma.
- Dá-la a alguém?
- Estás louco?... Já sei: atiramo-la à água.
- Não sejas parvo: os gatos sabem nadar.
- Olha, vamos ao parque. A estas horas, não anda lá ninguém.»
[José Emilio Pacheco, O princípio do prazer; em tradução para a Colecção Ovelha Negra / Oficina do Livro]
Papiro do dia (68)
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[Olivier Rolin, Paisagens Originais; trad. Jorge Fallorca, colecção Pequenos Prazeres / ASA, Outubro 2000]
9 de maio de 2011
Às vezes, lá calha...
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«Esta jovem sabia ler. Para mim (entre outros autores), Michaux era isso: palavras que parecem não dizer nada, de ar modesto e quase pacóvias, que nos fulminam à queima-roupa.»
Nem sempre a lápis (161)
Vi o céu incendiado pela trovoada que terá arrefecido no mar, apoiado na sachola. O branco da igreja escorregava pela colina até cegar. Podei as velhas buganvílias e os rebentos do caule da romãzeira; é árvore, não a plantei para ser arbusto. Apanhei as primeiras nêsperas e vi, pela primeira vez, os cachos da glicínia. Os figos aguentaram o mau tempo da semana da Páscoa; só um desistiu. Acabei a sepultura do Pompy com a planta germinada das sementes apanhadas na praceta, donde ele foi. Montei a mesa no atelier e julguei ter encontrado uma posição. Depois, pôs-se a hora do lobo; choveu não me lembro onde, nem porquê.
Papiro do dia (67)
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[Olivier Rolin, Paisagens Originais; trad. Jorge Fallorca, colecção Pequenos Prazeres / ASA, Outubro 2000 ...]
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