2 de dezembro de 2010

Nem sempre a lápis (108)

Às vezes, dou por mim sem saber para que lado me virar. Os convites de apresentações de livros aquecem a caixa de correio e a notícia aguarda nos blogues de que sou assinante. Na medida do possível, procuro esbanjar essa tarde com o que me dá na real gana, certo e sabido chegar a casa com mais um braçado de leitura. É como passear pelo campo e colher um ramo de flores, um pouco de verdura, para alegrar o ambiente. Adoro ser apedrejado por livros, dados e comprados e trocados, amontoá-los no bloco ao lado da cama, em cima da mesa e ao pé do Buda, na estante de trabalho; nunca deixo livros na mesa da entrada, só para lembrar que têm de sair. E como me voltei para ver qual ali repousa – San Pedro de Atacama oferecido pelo Carlinhos e criatura 5 pelas pessoas, durante o lançamento de Pensa que deixou de pensar nela (Marta Chaves) –, lembrei-me dos que aguardam oportunidade de serem trocados por outros, ainda não recuperado da exposição ao contágio do blogue. Oito meses de existência converteram a experiência numa antessala onde, em vez de se folhearem revistas cabisbaixos, se trocam impressões sobre maleitas e se aguarda a consulta nas livrarias: «Ai, ando tão dorida do Walser…», «Então e o meu Gonçalo M. Tavares?, nem lhe conto nada…», «Eu apanhei Bove, Emannuel Bove, não sei se conhecem…» E, a verdade, é que apanhei mesmo, inoculado como publicidade não solicitada pelo carteiro, mas tenho Um Celibatário. Traduzido por Paula Mascarenhas e capa de Clementina Cabral, para a Difel (ainda na Rua D. Estefânia), o número de depósito legal menciona o ano de 1989 como edição, única e não continuada, de um autor esquecido. Aberto o livro, o prefácio de Olivier Barrot lubrifica os mecanismos de leitura, ao referir os dois anos de correspondência entre Bove e o editor Calmann-Lévy, desde a entrega do original no Outono de 1930 até ser posto à venda em Março de 1932, período em que o autor se mudou da Rue Vaneau, em Paris, para Twickennham, nos arredores de Londres. Bove era um dos autores perseguidos desde a tradução de Doutor Pasavento, a que dá a capa, até o encontrar, meio zonzo com a nacionalidade portuguesa, num blogue que dá pelo nome de Existência de Papel e se tornou muito cá de casa. A semana passada, recebi Um Celibatário enviado por mais uma alienada; esta tarde, entreguei as provas da revisão final de Dublinesca e trouxe O Regresso (Alberto Manguel).

4 comentários:

MCS disse...

Roubei à Marta (onde há muita vida), se ela aparecer por aqui não diga que fui eu ;-)

http://vimeo.com/10062279

imo disse...

a tua escrita é envolvente. muito vila-matiana :) não poderia haver melhor tradutor. obrigada por esse (sobretudo esse!) e tantos outros autores que me viciam.

fallorca disse...

MCS, fique descansado. Se a Marta aparecer por aqui, desvio-lhe a atenção

fallorca disse...

imo, imo...