12 de dezembro de 2010

Papiro do dia (11)

«Agora, Fabris quis saber tudo. Se Tonio tinha notícias deles todos, que lhe dissesse, que lhe contasse tudo com todos os detalhes, que não se importasse de o magoar; tinha ouvido tantos rumores tristes ao longo dos anos, que agora preferia saber de uma vez por todas o que lhes tinha acontecido, em vez de continuar a imaginar coisas atrozes, histórias horríveis. Quem é que ainda estava vivo? Quem é que tinha morrido? Quem é que fora, como ele, para o exílio, ou, melhor dizendo, para o estrangeiro, porque exílio parecia prever o regresso, e ele, Fabris, sabia que um regresso não era possível; para o estrangeiro, então, inventando novas vidas, talvez sem querer recordar todo aquele mundo que tinham deixado para trás, todos aqueles lugares reduzidos agora a postais, velhas fotografias e desactualizadas agendas de telefones já fora de uso, a desmemoriadas listas de nomes de todos aqueles que havia tanto tempo tinham sido seus amigos, nesse passado ilusório quando eram todos jovens, quando eram tão diferentes de como eram, sem dúvida, em adultos, quando diziam coisas que agora, séculos depois, soavam absurdas, ridículas, melancólicas?
- Pára, homem – respondeu-lhe Tonio, levantando a mão. – Conta-me tu um pouco as tuas aventuras. Lembra-te de que não sei nada do que andaste a fazer.»
[Alberto Manguel, O Regresso; trad. Miranda das Neves, Teorema, Agosto 2009]

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