10 de dezembro de 2010

Nem sempre a lápis (110)

Quanto mais me detenho a observá-las e a rememorá-las, mais fascinado me sinto pelas estantes da Babel na livraria da Rua António Augusto de Aguiar; não conheço, ainda não vi os outros espaços. A Guimarães na Rua da Misericórdia, que já foi a rua de acesso ao Mundo e como exemplo que me é mais próximo; só de relance, a meio de uma conversa vadia e esfomeada. Fascinam-me quando vistas, sobretudo pelo lado de fora das paredes de vidro. Erguem-se em andaimes de verguinha de ferro, com a ponta rematada por um pé-de-cabra, que suportam as pranchas de madeira em altura, travadas com cavilhas dobradas como só um trolha as sabe pregar, para que os livros e as edições levantem o edifício; a Obra em construção. Não sei se repararam, mas evitei, deliberadamente, a denominação corrente para não contaminar o exercício rudimentar com a intrusão de pedreiros; livres ou não. A primeira vez que as vi, estimulado pela proximidade com o Centro de Arte Contemporânea, e, subitamente actualizados os anos em que não nos vimos, ainda perguntei ao Delfim Sardo se andava por ali a mão dele; o que seria perfeitamente natural, ter recorrido a um escultor, a um arquitecto, para as conceber. Mas não; salvas as excepções às regras dos ofícios, os escultores decoram e, nos melhores casos, complementam os espaços planificados pelos arquitectos nos estiradores. Perspectiva possivelmente académica e desactualizada pelo imediatismo virtual a três dimensões. A localização, a implantação nas sapatas visível através das paredes de vidro, das estantes da Babel cria equívocos apressados, aculturados, com a arte povera, é certo; mas as esculturas do acervo do Centro de Arte Contemporânea, como as de qualquer outro, são inúteis até ao formato de catálogo, de trabalho monográfico, entre a livraria e a biblioteca.

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