22 de dezembro de 2010

Nem sempre a lápis (113)

Sabia que o tinha, mas não esperava encontrá-lo ancorado no parapeito da janela do atelier. Faz parte de uma frota de miniaturas, de modelos de barcos, investida na capitania de uma loja de artesanato em Armação, entretanto desactivada. Na medida do possível, sem nacionalidade ou província balnear estampada nas velas, ignorado e ausente o registo e matrícula de qualquer barco engarrafado ou lastrado com fósforos de madeira. Preferia-os com pavilhão de papel de rebuçado e à mesma escala. O moliceiro foi-me oferecido pela Claró, filha de Mário Sacramento, ao tempo vizinha e visita de casa; portas comunicantes. Decorridas décadas de faina a mudar de casa e de porto, ainda conserva apetrechos de bordo com nomes que desconheço e não duvido que sejam mais úteis e reais do que escada e ancinho e pá para despejar a água do casco. Quando o meu olhar se cruzou com a proa altiva e as velas silenciosas, senti a inocência perdida sulcada pelos cisnes da ria; ia com os meus primos e a minha tia na lancha para Aveiro, fomos às compras ao passado.

2 comentários:

Cristina Torrão disse...

Coisas que valem a pena na vida: encontrar de surpresa um objecto que nos enche de recordações :)

E não é que é bonito, o moliceiro!

fallorca disse...

Imponente :)