«Não queria voltar. Melhor dizendo, desde o dia em que tinha posto os pés em Roma pela primeira vez, jurara que aquela outra cidade que tinha sido a sua durante toda a infância, toda a juventude, pertenceria dali em diante ao passado, ao vivo alguma vez mas já não vivo, como Pompeia, a do Vesúvio, não a do tango. Não queria converter-se num desses exilados que, cada tarde, sentados à mesa de um café da moda, vão melhorando a cidade abandonada com entusiasmo de urbanistas, ampliando as ruas, reparando os passeios, ocultando a sujidade e a fealdade por detrás de fachadas de cores estridentes. Uma vez, tinha ouvido um desencantado professor de Literatura Venezuelana comparar a sua Pagateta natal à Veneza dos anos de glória, porque, dizia o académico, “um dia, os nossos pântanos, agora, é certo, imundos, verão levantar-se neles palácios mais luxuosos do que os do doge e abrirem-se canais mais românticos do que os do Canaletto”. Tal nostalgia pré-fabricada não atraía minimamente Fabris.»
[Alberto Manguel, O Regresso; trad. Miranda das Neves, Teorema, Agosto 2009]
Sem comentários:
Enviar um comentário