«Querido pai, envio-te uma pequena prenda de Ano Novo. Foi o meu actual patrão quem me ofereceu estes charutos pelo Natal. Irás gostar de os fumar, são bons charutos, dois deles eu já provei, como podes ver, já que faltam dois. Se entre os meus pensamentos saltitantes de hoje tivesse de comparar estas duas peças em falta com duas faltas que mancham as minhas qualidades, ocorrer-me-ia logo, em primeiro lugar, que nunca te escrevo, em segundo lugar, que sou tão pobre que nunca posso enviar-te dinheiro, dois defeitos que me fariam chorar se eu me permitisse chorar. Como estás tu? Estou convencido de que sou um mau filho, mas estou também absolutamente certo de que seria um bom filho se houvesse algum sentido em ver cartas não contendo nada que possa alegrar. A vida, que julgamos ser nosso dever enfrentar honradamente, ainda não me permitiu agradar-te. Adeus, papá querido. Que a tua saúde se mantenha e que a comida te saiba sempre bem e que comeces bem o novo ano. Eu também vou tentar.»
18 de junho de 2011
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2 comentários:
"A vida, que julgamos ser nosso dever enfrentar honradamente, ainda não me permitiu agradar-te" - nem eu diria melhor ;)
Tens aí um grande escritor, Cristina; soubesse eu alemão e tinha os livros de Walser todos!
Cumprimentos à pêlo de arame (e vê lá se a levas a um nutricionista ou a um spa) :P
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