«Desde tenra idade que fazer herbários havia sido o seu refúgio seguro. Com a solidão de um filho único entre nove irmãos e irmãs, descobrira que o mundo das plantas lhe oferecia uma ordem que nunca encontraria entre os homens. Até a ideia de família lhe parecia mais comovente quando a aplicava a espécimes tão maravilhosamente diferentes à vista quanto a maçã e a rosa.
Era um viajante nocturno. Esgueirando-se no escuro perseguia flores de odores nocturnos nos bosques estivais, ou, com respiração suspensa e todo o seu corpo alerta e uma luz líquida que tinha as suas próprias cores, a vida de criaturas que saíam de casa, como ele, enquanto o mundo humano dormia. Era essa a alegria da coisa. Enquanto os olhos dos outros estavam fechados, ou somente abertos para o fantasioso mundo dos sonhos, olhar para uma parte da criação que era secreta, mas apenas porque vive numa zona do tempo que não é a dos homens.»
[David Malouf, Recordando a Babilónia; trad. Jorge Pereirinha Pires, Assírio & Alvim, 2009;
zona]
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