2 de janeiro de 2012

Nem sempre a lápis (246)

Digamos que fui à feira de Lagoa festejar o oitavo aniversário das botas com sola de pneu e a saborear a expectativa de ser reconhecido por uma cigana. A feira decorre durante a manhã do segundo domingo dos meses de Inverno. A facilidade de acesso à locomoção poluente – sobretudo, papa-reformas ou mata-velhos; grave lacuna no meu curriculum de condutor – tornou-a inútil e incapaz de enfrentar a fartura festiva da do Algoz, na segunda-feira seguinte; o ano inteiro. Não vi a cigana que me chamava «o maluco das calças», afiançando que perguntei o preço e as experimentei nas feiras mencionadas. Até naquelas onde (ainda) nunca pus os pés; onde não me sentei a comer uma sopa e a alimentar o olhar. Fui assediado por um cigano à saída, cabisbaixa, da feira, consentindo que medisse com o braço as que não queria, de olho posto nas que o levaram a ser franco: «Escute, eu sou honesto»; a segurar-me pelo braço, com firmeza. «Essas calças para si não servem. Ontem o meu neto pregou-lhes um prego.» E era verdade, foi honesto à cigano, o que me levou a comentar: Mas mal passado; a ver um furo só de um lado de uma perna. Passajado o percalço e subidas as bainhas, pelo-me por histórias de cinco euros; com as pernas esticadas e os cães ao colo.

5 comentários:

Teresa disse...

Adoro as nossas feiras. Mesmo as ciganices emprestam a estes espaços uma graça única...

Ás vezes perguntam a Portugueses de que íam sentir mais falta se saíssem do País: dizem Bacalhau, Fado, o Borrego da Avó... eu penso que iria sentir imensa falta de não me perder no meio destes montes e destas gentes.

Feliz Ano Novo!

Areia às Ondas disse...

Pelo-me por feiras! Devem-no ter confundido comigo...
Permita-me o apontamento, de entre muitos à escolha, passados em feiras:
Numa ocasião levei a minha sogra e uma tia ao mercado de rua que se fazia uma vez por mês por aquelas bandas. Armadas em retroescavadoras, revolveram tudo o que havia e mais um par de botas. A dada altura simpatizaram com uns vestidos e comentaram que eram baratos. O cigano ouviu e bradou ao megafone:
- É barato, é barato e nem mesmo assim as putas compram!

fallorca disse...

Teresa
se tiver oportunidade, não perca a de Algoz (2ª segunda-feira do mês).
Bom ano :)

fallorca disse...

Areia às Ondas,
este ano, na feira de Castro, um bradava que nem um possesso que era barato:
- Comprem ca gente hoje quer dormir na fragneta!
Fiufiu...
Boas areias :)

F disse...

Feiras, venham elas! Sempre. Qual bacalhau, qual fado!