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- Não sabia que as teorias eram francesas – diz Riba, surpreendido.
- São, estou-te a dizer a sério. E mais, só te fazia bem deixares de ser um pensador de café. De café francês, quero dizer. Terias de te esquecer de Paris. É este o meu desinteressado conselho de hoje.
Javier é asturiano, de uma localidade próxima de Oviedo, embora já viva há mais de três décadas em Barcelona. É quinze anos mais novo do que Riba e possui uma notável tendência para os conselhos e, sobretudo, para ser directo, tem uma clara predisposição para o tom categórico. Mas, hoje Riba não consegue entender por onde ele vai e pergunta-lhe o que tem contra os cafés de Paris.
Riba fica a recordar que a sua vocação de editor nasceu durante uma viagem à Paris de depois do Maio de 68. Enquanto roubava ensaios esquerdistas com inusitada alegria na livraria de François Maspero – onde os empregados viam com bons olhos que lhes saqueassem o estabelecimento –, decidiu que se dedicaria àquela profissão tão nobre de editar romances vanguardistas e livros insurrectos que, logo a seguir, aficionados da leitura de todo o mundo roubariam na Maspero e noutras livrarias de esquerda. Um ano depois, mudou de ideia e deu por esgotado o sonho revolucionário e decidiu ser razoável e cobrar pela venda dos livros que editasse.
Do outro lado do telefone, o seu amigo Javier permanece em silêncio, mas nota-se que continua indignado. Ficaria mais ainda se soubesse que o seu amigo misturou mentalmente, não há muito, a sua diatribe contra os cafés franceses com a sua condição de asturiano.»
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