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Caminhou para oeste pela estrada enquanto o céu se ia tornando mais pálido e o mundo das formas a despertar crescia gradualmente à sua volta. Precipitando-se assim, com o nascer do Sol nas suas costas, tinha a aparência de uma refugiada daquele acontecimento, transtornada pelo alvorecer. Ainda não se tinha afastara muito quando ouviu um cavalo na estrada atrás de si e fugiu para o seio do bosque, com o coração nas mãos. O animal irrompeu do sol num galope vagaroso, uma silhueta torturada de contornos liquefeitos. Ela agachou-se nos arbustos e observou-o, um enorme cavalo a emergir, cauterizado e ileso, do olho do Sol, para depois passar como uma caravela naufragada, de costelas descarnadas e negro e louco, com a sela esfiampada e os estribos a baloiçar e os cascos a ressoar suavemente na poeira e assim passou, enorme e esquelético e esbraseado, e o som do seu passo dissipou-se estrada fora até só restar o eco distante de aplausos num salão para sempre vazio.»
[Cormac McCarthy, Nas Trevas Exteriores; trad. Paulo Faria, Relógio D’Água, Junho 2011;
olho do Sol]
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