30 de abril de 2013

Nem sempre a lápis (363)

até Jajouka
(2006)
23. Subitamente, à medida que me vou recompondo da viagem a Mortágua, vejo-me obrigado a reconhecer que já não devoro quilómetros com o mesmo apetite com que fazia Lisboa / Madrid e Lisboa / Barcelona parando apenas o estritamente necessário (...)Subitamente, apercebi-me de que nunca escrevi nada que sentisse tão exterior como o que tenho vindo a escrever. Exterior a mim mesmo, como um texto que tenho vindo a traduzir e terei, necessariamente, de reler e rever, e cuja única diferença que o separa do texto traduzido consiste em não ter de cumprir uma data e poder entregar-me a ele sempre que me apeteça; poder esquecê-lo. (...) E tendo começado por afirmar que nunca escrevi nada que sentisse tão exterior como o que tenho vindo a escrever, suponho que essa exterioridade se deve a uma desencantada e possível necessidade de quebrar um certo silêncio comigo mesmo, animado pelo inconsequente anonimato de poder fazê-lo como se eu fosse o meu último leitor. Não o que escreve para me ler, mas o que me lê para que deixe de escrever.

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