«As minhas mãos estavam tão geladas que eu mal conseguia virar as páginas do livro que andava a ler, Luz em Agosto, como já disse. Comprara-o na pequena livraria inglesa da rue du Seine, em Paris, certa de que ia gostar dele, porque tinha adorado O Som e a Fúria, mas afinal não era de todo o meu tipo de livro. Mesmo assim, guardei-o estes anos todos, emalei-o e desemalei-o nem sei quantas vezes. E, curioso, isso nunca pareceu aborrecer-me até agora. Não é só Luz em Agosto que me parece aborrecido agora, são todos os meus livros. Ou talvez não sejam os livros que são aborrecidos, mas sim as recordações: emalar, desemalar.»
[Sam Savage, As recordações de Edna; trad. Sofia Gomes, Planeta, Janeiro 2013]
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