«Queria que do meu estudo resultasse um gráfico – um único gráfico que resumisse, que permitisse estabelecer uma relação entre o horror e o tempo. Perceber se o horror está a diminuir ao longo dos séculos ou a aumentar. Se é estável. Repara que se descobrir que o horror tem uma certa estabilidade histórica, que mantém certos valores, digamos, de cinco em cinco séculos, se conseguir encontrar uma regularidade, estarei perante uma descoberta fundamental. Quero chegar a um gráfico do que se passou até aqui – desde que temos relatórios históricos mais ou menos fidedignos – nos vários campos de concentração ou de extermínio – não nas batalhas, isso afasta-se do que pretendo – nada sobre conflitos entre exércitos que, podendo ser mais fortes ou mais fracos, são forças a ter em conta, isto é: forças que podem infligir baixas significativas no outro lado. O que quero estudar não é isso, aí estamos a falar de luta e não de horror. Quero apenas estudar as situações em que uma parte não tinha qualquer possibilidade – ou mesmo vontade – de infligir baixas na outra parte, e em que a parte forte, sem qualquer justificação – ou pelo menos sem a grande justificação que é o medo – dizimou a parte fraca.»
[Gonçalo M. Tavares, Jerusalém; Caminho, 12.ª ed. Março 2012]
3 comentários:
Nunca me canso de dizer que Jerusalem é um dos livros da minha vida.
e segui o seu conselho, ando a ler "o verao de 2012" ;)
E que tal?
Ainda estou no começo, mas por enquanto posso dizer que me tem surpreendido, pela positiva :)
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