Memória descritiva
Salto
Pertenço a uma geração que antecipou os pátrios êxitos no atletismo.
Pouco dado aos desportos, os estádios, balneários, a destreza de lançamento do botão ou do pião, colheram sempre a minha incompreensível indiferença.
Embora algumas cabeças me reconhecessem uma inesperada pontaria. 
Ou vocação para as abrir à pedrada.
Nesse tempo era assim, ainda não tinha aprendido outras armas. 
Porque existem muitas e desvairadas formas de se abrir uma cabeça.
A minha aversão aos desportos, era proporcional à obrigação da ginástica e moral. 
Disciplinas determinantes para nos inculcarem uma vontade enorme de desobediência.
Pelo menos, falo por mim. 
E já não é pouco.
Começámos a treinar à frente do sarrafo do guarda da serração. 
Do feitor que nos contrariava o apetite frutícola. 
Dos choques que nos zurziam nas cidades universitárias.
Era ainda o atletismo, uns quantos metros barreiras, a maior parte das vezes consagrados no hospital e na prisão.
Desporto de elites, como se depreende, até pelo desvelo com que o regime unificou as duas instituições.
O salto era reservado à mão-de-obra barata, sem perigo de qualificação, e lucro garantido.
 
4 comentários:
tenho saudades vossas
A que horas chegas? Podes ficar aqui ou na casa de Portimão
:) Estou de dendinite. para a semana falamos (marido, pai e avô babado)
Beijo, moça
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