3 de fevereiro de 2014

Nem sempre a lápis (483)

Memória descritiva
Salto
Pertenço a uma geração que antecipou os pátrios êxitos no atletismo.
Pouco dado aos desportos, os estádios, balneários, a destreza de lançamento do botão ou do pião, colheram sempre a minha incompreensível indiferença.
Embora algumas cabeças me reconhecessem uma inesperada pontaria.
Ou vocação para as abrir à pedrada.
Nesse tempo era assim, ainda não tinha aprendido outras armas.
Porque existem muitas e desvairadas formas de se abrir uma cabeça.
A minha aversão aos desportos, era proporcional à obrigação da ginástica e moral.
Disciplinas determinantes para nos inculcarem uma vontade enorme de desobediência.
Pelo menos, falo por mim.
E já não é pouco.
Começámos a treinar à frente do sarrafo do guarda da serração.
Do feitor que nos contrariava o apetite frutícola.
Dos choques que nos zurziam nas cidades universitárias.
Era ainda o atletismo, uns quantos metros barreiras, a maior parte das vezes consagrados no hospital e na prisão.
Desporto de elites, como se depreende, até pelo desvelo com que o regime unificou as duas instituições.
O salto era reservado à mão-de-obra barata, sem perigo de qualificação, e lucro garantido.

4 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

tenho saudades vossas

fallorca disse...

A que horas chegas? Podes ficar aqui ou na casa de Portimão

Ana Cristina Leonardo disse...

:) Estou de dendinite. para a semana falamos (marido, pai e avô babado)

fallorca disse...

Beijo, moça