5 de outubro de 2010

«É bom trabalhar nas Obras» (41)

«Até que por fim, uma tarde, viram-no entrar, divertido e conversador, com uma das duas irmãs, com Ada, dizem, no bar do Plaza. Sentaram-se a uma mesa, num canto afastado, e passaram a tarde a conversar e a rir-se em voz baixa. Foi uma explosão, um esbanjar de alegria e de malícia. Nessa mesma noite, começaram os comentários em voz baixa e a subida de tom das versões.
Disseram também, que os tinham visto entrar, ao fim da noite, na pousada da estrada que ia para Rauch e, inclusive, que o recebiam numa casita que as raparigas tinham longe da povoação, nas imediações da fábrica fechada que se erguia como um monumento abandonado, a uns dez quilómetros da povoação.
Mas foram falatórios, ditos provincianos, versões que só conseguiram fazer aumentar o seu prestígio (e, também, o das raparigas).
Logo à partida, como sempre, as irmãs Belladona tinham sido as para a frentex, as precursoras de tudo o que de interessante se passava na terra: tinham sido as primeiras a usar minissaia, as primeiras a não andarem de soutien, as primeiras a fumar marijuana e a tomar pílulas anti-contraceptivas. Como se as irmãs tivessem pensado que Durán era o homem indicado para completar a sua educação. Uma história de iniciação, era isso, como nas novelas, onde jovens arrivistas conquistam as duquesas frígidas. Elas não eram frígidas nem eram duquesas, mas ele sim, era um jovem arrivista, um Julien Sorel do Caribe, como disse, erudito, Nelson Bravo, o redactor de Sociedade do jornal local.»
[Ricardo Piglia, Alvo Nocturno; em tradução para a Teorema;

2 comentários:

Marta disse...

gostei muito deste passeio.muito.

fallorca disse...

«É bom partilhar as Obras» ;)