9 de outubro de 2010

«É bom trabalhar nas Obras» (42)

«Entrevistaram a telefonista do hotel, a menina Coca. Magrinha, sardenta, sabia tudo de todos, Coca Castro era a pessoa mais bem informada da região, estavam sempre a convidá-la para todas as casas para que contasse o que sabia. Fazia-se rogada. Mas, por fim, lá ia sempre com as suas notícias e as suas novidades. Por isso tinha ficado solteira! Sabia tanto que nenhum homem se abalançava. Uma mulher que sabe assusta os homens, segundo dizia Croce. Saía com os vendedores à comissão e com os viajantes e era muito amiga das jovenzinhas da terra.
Perguntaram-lhe se tinha visto algo, se tinha visto entrar ou sair alguém. Mas não tinha visto ninguém nesse dia.

A telefonista estava nervosa, no caso de um assassinato todos crêem que lhes vão complicar a vida. Durán era um encanto, tinha-a convidado duas vezes para sair. Croce pensou de imediato que Durán queria saber coisas, por isso a convidou; a pequena podia dar-lhe informação. Ela tinha-se recusado, por respeito para com a família Belladona.

- Perguntou-te algo específico?

A pequena pareceu enroscar-se, enrolar-se, como um espírito na lâmpada de Aladino, de que só se via uma boca vermelha.

- Queria saber com quem Luca falava. Foi o que me perguntou. Mas eu não sabia nada.

- Telefonou para a casa das irmãs Belladona?

- Várias vezes – disse Coca. – Falava sobretudo com Ada.

- Vamos telefonar-lhes, quero que venham reconhecer o cadáver.

A telefonista marcou o número de casa dos Belladona. Tinha a expressão satisfeita de alguém que é protagonista de uma situação excepcional.

- Olá, está?, aqui Hotel Plaza – disse. – Uma chamada para as meninas Belladona.»

[Ricardo Piglia, Alvo Nocturno; em tradução para a Teorema;

central]

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