«A atitude de completa indiferença dos peões na rua irrita os automobilistas. Deixem-me ainda que lhes diga rapidamente isto: tenho nele um representante que não me obedece. Ele que passe muito bem, ele mais a sua atitude de arrogância. Vou, soberanamente, votá-lo ao esquecimento. (…) Muitas pessoas que se mostram arrogantes sofrem de falta de coragem, muitas que são orgulhosas sofrem de falta de orgulho e muitas, ainda, que são fracas, não possuem força de ânimo para reconhecer a sua fraqueza. Muitas vezes os fracos comportam-se como fortes, os despeitados como satisfeitos, os humilhados como orgulhosos, os vaidosos como modestos; é o que acontece comigo, por exemplo, que nunca me vejo ao espelho, e isso apenas por vaidade, posto que o espelho é para mim insolente e malcriado.»
[Robert Walser, O Salteador; trad. Leopoldina Almeida, Relógio d’Água, Janeiro de 2003;
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