4 de junho de 2011

Nem sempre a lápis (173)

«Nunca me importei com reservas ficcionadas: para ser sincera, tinha que ser eu. Nunca pretendi fazer disto literatura, embora tivesse que escrever. Como quem comunica, sim, mas tantas vezes como quem não consegue nem pode comunicar» (Catarina Barros). Encontrámo-nos à sombra do Café no Chiado na tarde em que comprei os ténis. Estendi a perna à altura da mesa e pedi-lhe a opinião, enquanto me entregava um pacote com A Cicatriz do Ar, de que nunca mais me lembrei retirada a identificação para circularmos pela rua. É o trabalho que a ocupa; libertar-se de «a Catarina da Trama», recorrendo à distância de Zurique sem limite de tempo. Invejei-lhe ali mesmo a disponibilidade, metáfora para quem acabava de estrear uns ténis mas com tempo limitado. Despedimo-nos no Rossio, onde retornei há três anos e subi até ao Rato para os conhecer. Desta vez, encaminhei-me para o Marquês e aproveitei a Feira do Livro para fazer a rodagem dos ténis; digamos assim. Contrariando as expectativas em que me espreguiçava, acabou por ser o ano em que mais feirei; com prazer e considerável proveito. Walser, Kertész, Benjamin, Wilma Stockenström, César Aira a conselho de Rosa Montero, recomendada pelo prefácio de Sarabia em As Batalhas no Deserto (José Emilio Pacheco). Se o livro digital for como imagino, incluir o link de cada título ao longo da leitura, se for assim, venha ele, sem prejuízo do papel. Se me disserem «Não querias mais nada», confesso que realmente não quero nada que perturbe a caça ao livro; sem farnel, mas com calma. Como não uso relógio, desconhecia a existência de uma Hora H, protegido da afluência com as aquisições e sugestões que me fizeram subir, sem cansaço, para voltar a descer todo contente. Os defeitos que a feira possa ter não me interessam, evito-os também; exceptuando a fartura inibidora e a perspectiva de um ermo à saída do autocarro, até pró ano. Conto com conselheiros que me ensinam a separar o trigo do joio, como quem conduz um cego pela mão à casinha, até nos sentarmos numa esplanada a travar um braço de ferro entre ainda lá vou e os trocos. Só no regresso, a retirar livros do saco para diminuir a distância até casa, é que me apercebi daquele embrulho estranho. Nem me passou pela cabeça que pudesse estar ali o que me pediram e prometi oferecer; preocupado com o tempo até ler o livro de Catarina Barros.

7 comentários:

salamandrine disse...

e o arrependimento do não ter ido, a cada post Imre Kertész :S


sacana.

fallorca disse...

O arrependimento de não os ter trazido todos, mais os que te «adiantaste»

canibal :P

MCS disse...

Agora já anda de Austin Martin... fiu, fiu ;-)

E adorei esta ali em baixo: "Inconformada, sorriu e insistiu se não gostava dos sapatos, se magoavam. Magoam-me a imagem;"

fallorca disse...

Claro, não sou nenhum bimbo para andar de mocassins Sebago; arranjei maneira de «serem úteis a alguém» ;)

fallorca disse...

MCS, sacrílego! «Austin Martin»...
Aston-Martin BRG (british racing green)
Não tenho, mas imagino e privo-me de despesas e preocupações
Fiufiu...

MCS disse...

Eia, pois é, vê-se logo que sou pobre, nem a marca consigo dizer correctamente...ahahah ;-)

fallorca disse...

E eu só a marca, eheh...