«As quatro estações têm todas o seus cheiros e cores particulares. Quando vemos a Primavera, julgamos nunca ter visto nada assim. A exuberância do Verão é sempre nova e mágica em cada novo ano. Só este ano vemos bem pela primeira vez o Outono. E quando chega o Inverno é um Inverno novo que chega, muito, muito diferente do Inverno do ano passado ou de três anos atrás. Sim, também os anos têm as suas melodias próprias e os seus próprios cheiros. Ter passado o ano aqui ou ali quer dizer ter vivido e visto esse ano. Os lugares e os anos estão estritamente unidos, e o que dizer da ligação entre os acontecimentos e os anos? As experiências podem dar novas cores a uma década inteira, quanto mais a um breve ano. Um breve ano? Joseph não está nada contente com esta expressão. Ainda há pouco estava em frente à vivenda e, perdido nos seus pensamentos, dizia para si mesmo: “Um ano assim, tão longo e tão cheio que é.»
[Robert Walser, O Ajudante; trad. Isabel Castro Silva, Relógio d’Água, 2006;
de alguém]
1 comentário:
E só assim é que vale a pena viver: julgando "nunca ter visto nada assim".
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