«Uma coisa, logo que conhecida, jamais poderá ser desconhecida. Apenas poderá ser esquecida. E, na medida em que domina o tempo, enquanto puder ser lembrada, indicará o futuro. É mais prudente, sejam quais forem as circunstâncias, esquecer, cultivar a arte de esquecer. Lembrar é defrontar o inimigo. A verdade jaz na lembrança.
Chamo-me Francês Hinton e não gosto que me tratem por Fanny. Trabalho na biblioteca de um instituto de pesquisa médica que se dedica ao estudo dos problemas relativos ao comportamento humano. Tenho a meu cargo o material pictórico, um arquivo de fotografias de obras de arte e de gravuras populares – que dizem sem paralelo em todo o mundo –, representando médicos e pacientes, através dos tempos. É uma enciclopédia da doença e da morte, porque, em épocas recuadas, poucas moléstias tinham cura e parecem, por conseguinte, ter exercido um horrível fascínio na mente humana. Estamos particularmente interessados nos sonhos e na loucura, e a nossa colecção inclina-se, como seria natural, para o lado do incalculável e do não diagnosticado. Os problemas do comportamento humano ainda nos continuam a confundir mas, pelo menos na Biblioteca, temo-los arquivados como deve ser.»
[Anita Brookner, Olhem Para Mim; trad. Paula Reis, Teorema 1988]
3 comentários:
Interessa-me. Lá terá de ir para a minha "wish list".
Lança-lhe a mão no alfarrabista mais próximo
Acabei por comprá-lo na língua original!
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