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«Estha e Rahel quase nasceram num autocarro: o carro em que Baba, o seu pai, transportava Ammu, a sua mãe, para o hospital de Shillong para ela dar à luz, avariou na estrada ziguezagueante da propriedade do chá em Assão. Abandonaram o carro e fizeram sinal a um autocarro apinhado dos Transportes Estatais. Devido à estranha compaixão dos muito pobres pelos comparativamente desafogados, ou talvez apenas por notarem a avançadíssima gravidez de Ammu, alguns passageiros sentados cederam o lugar ao casal e, durante o resto da viagem, o pai de Estha e Rahel teve de segurar o ventre da sua mãe (e com eles lá dentro) para o impedir de balouçar. Isto foi antes de eles se divorciarem e de Ammu voltar a viver em Kerala.
Segundo Estha, se tivessem nascido no autocarro poderiam ter usufruído de viagens de autocarro gratuitas durante o resto da vida. Ninguém sabia exactamente onde ele obtivera tal informação, ou como é que sabia tais coisas, mas durante anos a fio os gémeos guardaram um leve ressentimento contra os pais por estes os terem deserdado de uma vida inteira de viagens de autocarro gratuitas.»
[Arundhati Roy, O Deus das Pequenas Coisas; trad. Teresa Cabral, BIIS, Setembro 2010;
apeado]
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