11 de setembro de 2010

À mão de ler (81)

«Sentei-me na cama e ouvi a chave dar a volta, de novo. A cela iluminada tinha um aspecto simpático; sentia-me deveras afortunado ali, debaixo de um tecto, e escutava com prazer a chuva a cair lá fora. Eu não desejava mais do que uma cela acolhedora, como esta! A minha satisfação aumentou: sentado na cama, com o chapéu na mão e os olhos fixos na chama de gás junto da parede, comecei a pensar em todos os pormenores do meu primeiro encontro com a polícia. Aquela era a primeira vez e como tinha sido fácil enganá-los! O jornalista Tangen, hein! E também o Morgenbladet! Como tinha ido direito ao coração do homem com aquela do Morgenbladet! Não se fala mais nisso, hein? Tinha estado entretido no Stiftsgarden até às duas da madrugada, esquecido em casa das chaves do portão e uma carteira com alguns milhares de coroas! Conduz o senhor lá acima, à secção reservada...»
[Knut Hamsun, Fome; trad. Liliete Tavares, Cavalo de Ferro, Outubro 2008;
assente o rato na secção reservada]

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