21 de setembro de 2010

À mão de ler (86)

«Sentia-se melhor n'A TABERNA que no salão burguês, adoptara o lumpen. Por lhe achar mais verdade ou, simplesmente, por ser mais barata ou, ainda, porque aí o seu critério reluzia redobradamente, numa fusão de megalomania com o seu oposto. A TABERNA é o refúgio do boémio culto, apreciando-lhe o saber e o autodidatismo, a vida-airada e a ruína, a doçura e a agressividade, a consciência social e a inacção. E, sobretudo, apenas pelos vapores do álcool ou por uma generalizada partilha dessa mesma postura, A TABERNA não se intromete na sua distracção, nesse estar alhures que lhe permite estar ali. Um ponto de fuga de outro ponto de fuga, mas nunca a Oriente do Oriente - errando pela Antárctida.

Hoje há pica-pau. Tabaco só ao balcão. Os produtos expostos são para consumo da casa. Se bebes para esquecer, paga antes de beber. O camelo é o animal que aguenta mais tempo sem beber - não seja camelo. O tabaco é pago no acto de entrega.»

[Miguel Martins, O Taberneiro; Poesia Incompleta, Maio de 2010;

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma vez, obrigado!
MM