25 de setembro de 2010

Nem sempre a lápis (84)

Não gosto porque me identifique; o que reverbera dentro de mim, o que acciona o diapasão endurecido, é a contenção explosiva de Marta Chaves. Conheci-a por acaso, sentado ao balcão do bar do Miguel, a apanhar o exemplar único exposto num cavalete: Onde Não Estou, Tu Não Existes, tea for one; um pouco, toma lá e vai-te tratar. Assim o interpretei, e bem, enquanto lia as vinte e uma páginas de texto dividido pela atenção para com o anfitrião, dando o caso por arrumado até chegar a casa. Entregue o talismã ao cuidado da Nico, semanas depois o acaso proporcionou-me também uma leitura pelo editor e pela autora, sentado a tomar notas e a fotografar um universo, onde só os mais afoitos se aproximavam da fasquia dos quarenta anos; a diferença de idade sobejava para alguns. E foi então que verifiquei esta coisa assombrosa: se a Marta escrevesse Esta coisa de espantar. O medo, a raiva, o medo. / O medo. Tu dirias:, e me deixasse escrever o passado, as letras batem certas; não sobra nenhuma.