27 de setembro de 2010

Nem sempre a lápis (85)


O Sol escondeu-se atrás da Junta de Freguesia, enquanto fui buscar o café ao balcão, bebido de frente para a minha esplanada: Encerramos Ao Domingo. Mudei de mesa, apenas para sentir as costas protegidas e abrigar-me da aragem; nada previa isto, no bloco. Levantei os olhos e um chapéu-de-sol – inútil, enrolado – fazia de menhir urbano, rodeado pelos despojos do culto. Antes do sino bater as sete e alertar os fiéis que lhe seguem a via-sacra, vi passar uma família de fora; com vagares deslocados. Seguia na peugada trôpega, mas decidida, de um espectro amortalhado como se vestisse o fato com que se casou; os maxilares à procura dos dentes perdidos, o chapéu derrubado sobre a fronte, sulcada de regueiras, de açudes, de hortas ressequidas, à medida que os dias mirram com uma alegria desconcertante.
 

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