5 de setembro de 2010

Nem sempre a lápis (77)

Não preciso de abrir os meus dois últimos livros publicados para localizar duas falhas e aborrecer-me; são assuntos, são etapas de lombada arrumada. E se eles foram lidos e relidos, sobretudo A Cicatriz do Ar, onde um ridículo «espessas» – as paredes, por muito finas que sejam, ou são grossas ou são estreitas; embora o ambiente comportado possa ser espesso – conseguiu sobreviver anos e a mais leituras do que o número de exemplares; não duvido. Assim que o abri, sob o ponderado e irremediável formato de livro auto-editado, cortámos logo relações; consumira-se a paixão. Quanto aos Blues – teria de me levantar e folheá-lo para indexar a página –, apesar dos esforços tripartidos para não meter água, sei que ela brota sob a forma de um plural indevido, precisamente, no regresso ou na manifesta vontade de ir até às Quedas de Água; até à serra, onde acabei por não passar uma noite ao relento, deliciado com o colossal abismo que me separa do infinito. Apesar de estar em Mortágua, compreendi que a criança que se deitava na eira comunitária e nas mantas dos pastores que vigiavam o gado do tio, nas noites de Verão, tinha deixado de procurar os prados da terra do pai, entregue à sobrevivência especulativa do turismo de habitação; não tarda. Durante uma breve troca de sms, sem vir a propósito, apercebi-me que há quatro anos andava a escrever até Jajouka, entre o Monte Alto e Mortágua. Terminei-o em Setembro, o mesmo mês em que, dois anos depois, meti os Blues no saco, dados os primeiros acordes ainda no Algarve, onde já não regressei. Entretanto, tinham decorrido os mesmos quatro meses que levei a preparar a viagem que não cheguei a fazer ou para a continuar cada vez que lhe pego; entre paredes duplas, triviais.

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