19 de setembro de 2010

Nem sempre a lápis (83)

Entretido a passar os olhos e a tirar alinhavos d’O Livro do Fim, surpreendeu-me uma foto que não devia ser novidade. Há mais de um ano que não nos víamos, quando esteve para ser editado pela Trama, com paginação e capa do Paulo da Costa Domingos, a partir da foto do pátio que se segue à entrada no Café Hafa; privé, na caniçada. Há mais de três anos, a escrita sedentária aconselhava-me a «ir a Tânger buscar um livro»; e fui lá de propósito, à procura dele. Uma manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço de frente para a place de Faro e a costa espanhola, lembrei-me de apanhar o autocarro e ir a Asilah tirar fotos para animar o texto; pensava eu, numa esplanada alguém me disse que o livro se tinha esgotado. Olho-a resgatado no monitor: a foto utilizada como separador de texto, de tempo, foi tirada ao acaso dentro da Medina; é a esquina, com proa, de uma parede branca, um rodapé verde esmurrado à altura dos ombros, decapitada por cabos eléctricos; caiados. Essa parede – a parede que me perseguia como um livro pelas ruelas de Tânger e vi há três meses em Asilah, com naturalidade –, reencontrei-a enquanto passava os olhos e tirei mais alinhavos d’O Livro do Fim; trinta e sete anos depois, afinal não era em Tânger. E alguém te pediu a opinião, Cioran?

Sem comentários: