7 de setembro de 2010

Nem sempre a lápis (78)

Agosto é, foi sempre, um mês massacrador, mas encerro-o tão bem como esta luz que tem vindo a instalar-se; esta serenidade que me apanha sempre desprevenido e ainda bem. Em oito meses, entreguei Dentes de Leite (Pisón); descobri Antonio Orejudo (Vantagens em Viajar de Comboio); um brinquinho de Skármeta (Pai Ausente), destinado a comemorar os seus setenta anos; Contos Reunidos, a monumental colectânea dos textos originais, trabalho de bibliógrafo recorrendo às «ediciones sin tapas» de Felisberto Hernández, referência da quase generalidade dos autores actuais mais avisados; entre eles, Piglia e Vila-Matas, naturalmente. Do primeiro, já se circula por A Cidade Ausente, do segundo, ainda não me refiz da necessidade de encaixar Dublinesca, mudo e calado; entrar nos sessenta anos, não tem nada a ver com o que se imaginava. Entretanto, passei o Verão com Coetzee e Manguel, compreendi porque Este País Não É Para Velhos, fui a Asilah fazer o que tinha a fazer e esta tarde, sem que nada o previsse, comecei a movimentar os livros nas estantes, dada a impossibilidade de me rever na esplanada. Há cerca de duas ou três semanas, um e-mail pôs-me em contacto com uma leitora – já vinda do Café Perec no CCB, há quase dois anos, sem que o soubesse – a quem entreguei até Jajouka, também para retribuir o favor de ter imprimido o primeiro tomo, o primeiro livro de actas do meu dia-a-dia. E sublinho «também», porque nas conversas que fomos tendo e quando nos conhecemos a meio da famosa entrevista, abortada, que a Lourdes Féria cismou fazer-me – fiquei adepto do Orpheu, no Príncipe Real –, mais tarde ao jantar e depois numa sessão no Catacumbas, ficou esclarecido que é desejável que sublinhe e anote e questione, até Jajouka, mas nunca um livro que lhe empreste; relação que disse ter com os dela. Acabei por passar mais um fim-de-semana sem ir até ao bar do Miguel Martins e à Ler Devagar, a seguir alguns dos conselhos dos meus provadores de leitura e, enquanto aguardo sinal para trepar As Costas das Sirtes encomendada na Pó dos Livros, fico literariamente embasbacado com Knut Hamsun, Fome, ruborizo com A Amante Holandesa, J. Rentes de Carvalho. Feito o balanço, sabe-me bem entrar em Setembro à espera do novo romance de Piglia, Blanco nocturno. Branco nocturno, expressão usada para designar o caçador furtivo que encandeia a vítima com um holofote.

5 comentários:

nuno monteiro disse...

Ontem, quando saí do trabalho, na biblioteca pública de Vila Real, dei de chofre com "O segredo da trapezista", as coisas que eu encontro, mas é mais ou menos assim, sendo livro, se é da teorema pego-lhe, se o autor é sul americano (talvez por ser Teorema) idem, e então, então ali fiquei, quase uma hora, perdendo os filhos que mandavam dizer que o infantário fechava... depois, chegado a casa, lembrei-me de inaugurar um novo blogue - cronópios e famas. roubei-o ao Cortazar. e a primeira entrada vai ser da trapezista, da qual, na hora, não cheguei a saber qual o segredo...

ND disse...

ai, ai, ai, já és o segundo escrevente que leio a conhecer Skármeta (não me lembro agora quem foi o outro); durante anos pensei que só eu o conhecia e isso deixava-me muito animada com a vida. :P

fallorca disse...

Nuno Monteiro, do mesmo autor, Oscar Málaga Gallegos, tem também «Blues para um gato velho». Desta vez, «o segredo» mantém-se na China, onde o autor viveu alguns anos.

Quanto a ti, N (de rõim, como se diz na Beira), o «Carteiro» não conhece só a tua caixa.
Dá-me tempo, dá-me tempo e disposição (mais isso) para ir aos Correios ;)

Cristina Gomes da Silva disse...

Agosto um mês massacrador! E eu que sempre o vivi a-gosto ;-)

fallorca disse...

O gosto apura-se, decanta-se, na diversidade. C'est la vie...