3 de outubro de 2010

«É bom trabalhar nas Obras» (40)


Começa assim:
«Tony Durán era um aventureiro e um jogador profissional e viu a oportunidade de ganhar a aposta máxima quando tropeçou nas irmãs Belladona. Foi um ménage à trois que escandalizou a terra e ocupou a atenção geral durante meses. Aparecia sempre com uma delas no restaurante do Hotel Plaza, mas ninguém conseguia saber qual era a que estava com ele, porque as gémeas eram tão iguais que nem a letra se diferenciava. Tony quase nunca se fazia ver com as duas ao mesmo tempo, reservava isso para a intimidade, e o que mais impressionava toda a gente era pensar que as gémeas dormiam juntas. Não tanto que partilhassem o homem, mas que se partilhassem a si mesmas. Em breve os murmúrios transformaram-se em versões e em conjecturas e já ninguém falou de outra coisa; nas casas ou no Clube Social ou no armazém dos irmãos Madariaga fazia-se circular a informação a toda a hora, como se fosse o estado do tempo. Nesta terra, como em todas as terras da província de Buenos Aires, havia mais novidades num dia, do que em qualquer grande cidade numa semana, e a diferença entre as notícias da região e as informações nacionais era tão abismal que os habitantes podiam ter a ilusão de viver uma vida interessante. Durán tinha vindo enriquecer essa mitologia e a sua figura alcançou um expoente lendário muito antes do momento da sua morte.»
[Ricardo Piglia, Alvo Nocturno; em tradução para a Teorema;
capa]

2 comentários:

salamandrine disse...

e a provocadora sou eu...

fallorca disse...

Boas fotos e lê depressa ;)