O coronel tinha nascido em Pinerolo, próximo de Turim, em 1875, mas não sabia nada dos seus pais nem dos pais dos seus pais e, inclusive, uma versão dizia que os seus documentos eram falsos e que o seu verdadeiro nome era Expósito e que Belladona era a palavra que o médico tinha pronunciado quando a mãe morreu num hospital de Turim, com ele nos braços. «Belladona, belladona!», tinha dito o homem como se fosse um requiem. E com esse nome o registaram. O pequeno Belladona. Era filho de si mesmo; o primeiro homem sem pai, na família. Chamaram-lhe Bruno porque era morenaço, parecia africano. Ninguém sabe como chegou, aos dez anos, com uma mala, foi parar ao internato para órfãos da Companhia de Jesus em Bernasconi, província de Buenos Aires. Inteligente, apaixonado, fez-se seminarista e começou a viver como um asceta, dedicado ao estudo e à oração. Era capaz de jejuar e de permanecer em silêncio dias inteiros e, às vezes, o sacristão surpreendia-o na capela a rezar sozinho de noite e ajoelhava-se junto dele como se estivesse com um santo. Foi sempre um fanático, um possuído, um obstinado. A sua descoberta das ciências naturais nas aulas de física e de botânica e as suas leituras na biblioteca do convento das remotas obras proibidas da tradição darwiniana distraíram-no da teologia e afastaram-no – provisoriamente – de Deus, segundo ele mesmo contava.
Uma tarde, apresentou-se diante do seu confessor e expressou o seu desejo de abandonar o seminário e ingressar na Faculdade de Ciências Exactas e Naturais. Um sacerdote podia ser engenheiro? Só de almas, responderam-lhe, e recusaram-lhe a autorização.»
2 comentários:
quero ler tudo!
Calma, ainda estou a traduzir; calma...
Enviar um comentário