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- Uma cueca, vem a calhar – disse o publicitário. – É uma coisa alegre.
- Este jovem é meu filho, Daniel. É guitarrista.
- Olá, Daniel. - É uma cueca dedicada ao meu marido. Detido e desaparecido.
- Com quem a vai dançar?
- Com ele, cavalheiro. Com o meu marido.
Tirou um lenço branco do peito e agitou-o delicadamente entre o indicador e o polegar da mão direita. O rapaz fez os rasgados preliminares e com voz aguda introduziu o primeiro verso: "Minha vida, em tempos fui feliz…"
O facto da mulher reagir aos passos de dança do seu desaparecido, com uma dignidade sem ênfase, tornava a sua dança ainda mais demolidora.
Bettini desculpou-se com uma expressão vaga e foi à casa de banho.
Deixou correr a água na nuca sem se importar que salpicasse a camisa. E esfregou o rosto debaixo do jorro como se quisesse que lhe pulverizasse a palidez.
E foi dessa maneira que também as suas lágrimas se dissolveram no lavatório.
* Abreviatura de zamacueca, dança popular chilena.»
3 comentários:
isto promete :)
Promete e cumpre :)
uau!
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