2 de novembro de 2010

Nem sempre a lápis (100)

«Falaremos de Bloom / e da sua viagem à Índia. / Um homem que partiu de Lisboa.» Estávamos, então, no ano de 2003; o nosso herói literário – um homem que parte de Paris, no final do Canto X –, precisou de sete anos para regressar de comboio e chegar a esta conclusão: «Não há uma única frase que lhe pareça importante. / Chega a Lisboa. / Nenhum ódio o recebe e nenhum amor.» Enquanto decorria a viagem à Índia, não me surpreende que, entretanto, Gonçalo M. Tavares tenha tido tempo e oportunidade para encontrar uma casa no bairro, mesmo sabendo que «nada que aconteça poderá impedir o definitivo tédio de Bloom, o nosso herói.» Após 56 páginas de apresentação de Julien Gracq, resolvi adiar o que a costa das Sirtes reserva; estou muito mais interessado em saber, quantas assoalhadas e até onde me pode levar a viagem que Gonçalo tem vindo a escrever: «Escrevo para educar o raciocínio, / um hábito que se pratica com uma arma / encostada à cabeça.» Mas, é um poema? É. Mas, é uma epopeia? É. Mas, é um romance? É, e, já agora, não perguntem pela literatura. Chove. Em casa d’O Senhor Bloom o entardecer confunde as cortinas, em casa d’O Senhor James; numa delas, não interessa.
[o homem que pôs matteo a perder o emprego]

2 comentários:

MCS disse...

Não sei se já leu, mas aqui vai:

http://ipsilon.publico.pt/livros/entrevista.aspx?id=268246

fallorca disse...

Não compro jornais, mas acabo por ficar ao corrente - apenas do que me interessa - pela generosidade dos blogues.
Obrigado