10 de novembro de 2010

Nem sempre a lápis (103)

Quando me deitei ao volante de Bibliotecas Cheias de Fantasmas, percebi logo que estava com graves problemas de travões. Contrariado, estacionei-as na noite seguinte, bem à mão ao lado da cama; não com aquela frustrante (para mim) sensação de rapidinha – vai ser tão bom, não foi? –, mas com a certeza de que não ficávamos por ali. Bem vistas as coisas, vivo numa casa de papel; às vezes, papel de arroz. Jacques Bonnet tinha-se colado ao pedido de A Costa das Sirtes, mas acabou por ser trazido pel’A Viagem À Índia e o bloco com a capa do livro de Moravia, para a Nico anotar a ideia com que veio de lá. Entretido a recuperar do rascunho da tradução de Alvo Nocturno e de uma ida e volta ao Sul – tendo o cuidado de não atropelar uma ruça jovem, encadeada na Nacional; não faço distinção entre lebres, gatos, coelhos, cães –, deleguei na Net a capacidade de esmorecer a vontade de ir até Lisboa e evitar o confronto com a turbulência de sábado à tarde; soalheiro, ainda por cima. Gosto mais de flanar pela cidade fardada à civil, ocupada com o relógio de ponto. Entre tantos blogues que folheei e os que li, algo se terá sobreposto à toada das ragas em fundo e fui procurar A Casa de Papel e não o autor, no Google, que me atirou aos olhos a capa da colecção Pequenos Prazeres, redireccionada para a Leya. Existe. Enquanto riscava o título da lista de livros a comprar numa próxima ida a Huelva, a Sevilha, a Madrid, sorri a estabelecer uma (feliz) continuidade entre a colecção da ASA dirigida por Manuel Alberto Valente, e as “pequeno formato” e “textos breves”, que Francisco José Viegas concebeu para a Quetzal. Depois, liguei para a Letra Livre, que me aconselhou a contactar a Avelar Machado, na segunda-feira; mas, como estava e estou com pressa, liguei para a Pó dos Livros, onde um exemplar já terá sido visto e fico a aguardar a habitual sms. Entretanto, compro – intacto ou bem lido e não sublinhado – o livrinho que, embora com outra capa e outra filiação, acima ilustra a urgência do meu estado de alma por pequenos, brevíssimos prazeres de 80 páginas, assim resumidas:
«Bluma Lennon foi uma das vítimas da Literatura. Na Primavera de 1998, Bluma, uma lindíssima professora de Cambridge, acaba de comprar um livro de poemas de Emily Dickinson quando é atropelada. Após a sua morte, um colega e ex-amante recebe um exemplar de A Linha da Sombra, de Joseph Conrad, em que Bluma escrevera uma misteriosa dedicatória e que lhe era agora devolvido. Intrigado, parte numa busca que o leva a Buenos Aires com o objectivo de procurar pistas sobre a identidade e o destino de um obscuro mas dedicado bibliófilo e a sua intrigante ligação com Bluma.»

9 comentários:

Marta disse...

muito muito muito, deste livro.

fallorca disse...

É ler antes que «os fantasmas» o levem ;)

imo disse...

também andava à procura deste livro desde bonnet.
é bom passear por aqui.

fallorca disse...

imo, já sabe da «existência»; agora é só esperar :)

fallorca disse...

imo,
já cá canta, exactamente a edição da capa que ilustra o post.
Depois, bem, depois veio «Pergunta ao Pó», «O Caminho Estreito Para o Longínquo Norte», Matsu Bashô,(5€)e, enquanto aguardava a apresentação de Antonio Skármeta, lá tive de ir à caixa da Buchholz pagar «A Biblioteca», Zoran Zivkovic
A isto é que eu faço, fiufiu...

imo disse...

magnífico!

imo disse...

acabei ontem de ler este livro (intercalo a volumosa leitura de bellow com livros mais curtos) e confesso que a história me perturbou. fiquei com carlos brauer a roer-me o pensamento durante bastante tempo.

adorei o livro.

fallorca disse...

Agora, fico à espera da reacção a «Tanta gente, Mariana».
É proibido perder um livro que foi sempre uma espécie de «ovelha ranhosa» no universo, então dominante e sectário, dos neo-realistas; e ainda por cima, escrito por uma Mulher, coitados...

imo disse...

esse já vai a meio...
e está a surpreender-me.
tantos livros e só uma existência :)