O facto de ter confundido o seu filho José Luís com um negrito, não lhe casou graça. Instintivamente olhou para Don Alberto, ao mesmo tempo que lhe veio à ideia o pensamento daquele avô de forma tão inoportuna cravado com a sua tenda na árvore genealógica dos Sotomayor.
Entretanto, José Luís Mengánez, repimpado na carruagem, recorria ao passeio com o intuito de procurar na poética transformação da claridade sedosa dos campos, ao entardecer, a voz da sua musa – porque José Luís sentia-se poeta. Melhor dizendo: era poeta. Lançava olhares errantes pelas suaves leivas das colinas adormecidas numa paz doce, de écloga, à luz espessa e dourada do crepúsculo de Janeiro, deixando a alma deleitar-se com estéticas emoções – ao que chamava, muito orgulhoso da novidade da metáfora, a taça extravagante dos céus.»
[Romulos Gallegos, Antologia do Conto Moderno; trad. José Ferreira Monte, Atlântida, Livraria Editora, Coimbra, 1960]
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