6.
(...) o Caramulo foi a minha inconsciente Patagónia. Talvez por isso, o Caramulo tenha sido a mais verdadeira, a mais pura, a minha mais consistente
Patagónia.
(...) Abordei a serra pelos vários caminhos que fui aprendendo e aventurando-me pelos que me foram sulcando o mapa ainda em branco da imaginação.
(...) Durante a subida pela velha estrada que liga Mortágua ao Campo de Besteiros, foi mais a partir daqui que me surpreendeu a ausência das laranjeiras protegidas pela serra e da água a jorrar para as bermas da estrada onde, nalgumas poucas curvas, ainda resistem as velhas guardas de rede que balizam as ribanceiras. A estrada é praticamente a mesma que fazia de mota
(...) tirando um ou outro chalé alpino decrépito e algumas corajosas placas de metal e betão que enfrentam o avanço da fosforescente actualidade comunitária, quase não dei pelos sinistros edifícios dos sanatórios – que me ameaçaram a infância como um papão –, nem vislumbrei manadas de vacas na serenidade dos prados, agora decepada pelo silêncio quixotesco das pás eólicas a rodar
(...) pareceu-me ver muitos mais cafés às moscas. Passado o cruzamento para o Cabeço da Neve e o Caramulinho, à medida que as luzes que brilhavam lá em baixo se iam tornando cada vez mais próximas e identificáveis, compreendi que já me tinha despedido há muito tempo desse fantasma. Mas não delirava pela serra, quando aos vinte e dois ou vinte e três anos tudo em que então acreditava era «escolher Tânger para se perder»
(...)
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