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Chegara àquele lugar embriagado, em parte pelas goladas de aguardente que um homem no autocarro lhe oferecera, mas sobretudo pela expectativa que se apoderara dele nas últimas horas de viagem. E esse sentimento não era sem motivo. Três anos antes, quando tinha dezassete anos, o jovem saíra de casa num impulso violento, um viajante inexperiente que entrava com medo no desconhecido, certo de nunca voltar ao ponto de parida. E agora, depois de três anos, estava de regresso.
Sentado à mesa daquele restaurante de uma pequena cidade sem nome, Andrew sentia-se mais calmo. Mas enquanto estava sentado com a sua cerveja (de tal forma um estranho, que era como se estivesse magicamente suspenso da própria terra) a memória de todos os de casa passavam dentro dele – com a claridade das bobinas de um filme – por vezes precisa e com padrões bem definidos, e de novo numa desordem caótica.
E havia um pequeno episódio que voltava uma e outra vez à sua mente, embora antes daquela noite não o tivesse recordado durante anos. Era da altura em que ele e a irmã tinham feito um planador no pátio das traseiras, e talvez se lembrasse dele porque as coisas que sentira então se pareciam tanto com a expectativa que esta viagem trazia agora.»
[Carson McCullers, Contos Escolhidos [Fragmento sem título]; trad. Ana Teresa Pereira, Relógio d’Água, Agosto 2012;
serrenho monchiqueiro]
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